A geopolítica do Petróleo
As notícias com que hoje somos confrontados nas aberturas dos telejornais, levaram-me a reflectir sobre a geopolítica do petróleo e a procurar obter um conhecimento, porventura mais profundo, deste importante recurso natural, ao qual estão associados a maioria dos grandes conflitos da história recente.
É depois da Segunda Grande Guerra, principalmente nos trinta anos subsequentes (1945-1975) que o petróleo se torna no produto energético por excelência, transformando-se num elemento praticamente indispensável da vida quotidiana. Com a democratização do automóvel, sobretudo a partir dos anos 1950, e toda a evolução tecnológica ao nível dos transportes, o consumo petrolífero quadruplicou em vinte anos, e o seu controle tornou-se uma questão eminentemente geopolítica «O petróleo é 10 por cento de economia e 90 por cento de política.» Daniel Yergin, presidente da Cambridge Energy Research Associates (CERA) e personalidade eminente nos meios petrolíferos, utilizou esta fórmula para qualificar o mercado petrolífero europeu dos anos 1930.
Cerca de 80 depois, a fórmula mantém-se mais actual do que nunca, apenas com a diferença, de que hoje, toda esta trama geopolítica se desenvolve a uma escala planetária, e não diz apenas respeito às questões internas dos países desenvolvidos.
…Actualmente, Yergin considera, “que nenhuma outra matéria-prima tem laços tão estreitos com a geopolítica. Verifica-se isto no Médio Oriente, na Rússia, na China, na América Latina…Em todos os países do mundo”
O aumento da procura, devido ao crescimento dos países desenvolvidos, mas também o aparecimento de novas economias, ou economias emergentes, como a China e a Índia, fazem aumentar a necessidade de alternativas de exploração e alteram a geopolítica existente, dando origem a zonas de novos conflitos, como o Golfo da Guiné, o mar Cáspio depois do colapso da União Soviética, e mesmo Timor Leste, que se encontra “entalado” entre dois vizinhos poderosos - a Austrália e a Indonésia – sofre os problemas da delimitação das fronteiras marítimas devido ao Petróleo.
Se pensarmos que, em 2005, as reservas mundiais atingiam cerca de um trilião de barris e, que deste total, 260 mil milhões pertencem à Arábia Saudita, que dispõe das maiores reservas de um só país, e que os segundo, terceiro, quarto e quinto países situam-se também na região do Golfo Pérsico, então percebemos a razão da tensão permanente e de conflitos constantes nesta zona do globo.
É importante também ter presente, que os interesses estratégicos não se limitam apenas aos países produtores, mas também ao controle das rotas petrolíferas. O estreito de Babel Mandeb, o canal do Suez, o estreito de Ormuz, o estreito de Malaca, são alguns exemplos.
Face a esta problemática global e complexa, julgo que o Mundo começa a acordar para os desafios que se avizinham. O petróleo, tal como o carvão e o gás natural, recursos energéticos de que dependemos, são provenientes de materiais fósseis, que se formaram há mais de 65 milhões de anos, que não são renováveis e, que apesar disso, hoje gastamos desmesuradamente.
Há dias li um estudo, que referia que a manterem-se os actuais níveis de crescimento de países, que já referi, como a China e a Índia, daqui a 15 anos seriam precisos 3 planetas para sustentar a população do Mundo. Ora, se há coisa que não podemos ter, são efectivamente 3 planetas.
Apesar de ser difícil de reconhecer, tudo leva a crer que a actual crise petrolífera, não é apenas uma dificuldade conjuntural, mas é antes de mais o começo de uma nova época, de um período que se prevê cinzento, de um futuro difícil, complexo e sobretudo carregado de incertezas. Diria que é uma questão estrutural à escala global e, mais do que isso, é importante dizê-lo, o fim da energia barata.
É tempo de nos prepararmos para o “choque energético”, para a escassez dos recursos naturais, para os efeitos das mudanças climáticas.
É tempo de exigir aos mais altos responsáveis do mundo, medidas concretas e sérias, sobretudo ao nível das energias renováveis.
Mas é também tempo de valorizar a consciência cívica de cada um de nós e, ao nível individual, tomarmos algumas medidas preventivas.
A não ser assim, não é apenas o preço do petróleo que está em causa, mas é o futuro das gerações vindouras, que estará seriamente comprometido.
A curto prazo, aguardamos com renovada esperança, algum desanuviamento político decorrente das próximas eleições nos Estados Unidos.
Comandante dos BV Penacova
In Jornal Nova Esperança
Edição Impressa
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